Dias sombrios
Um abismo avassalador
Que me cala
Um grito ensurdecedor de silêncio
Uma bruma que me cega
Uma fronteira entre a mágoa e o perdão
Um não entendimento
Mazelas da escuridão de uma senzala de sentimentos
Migalhas caídas do prato de porcelana barata
O silêncio é devastador
O silêncio é devastador
O silêncio é devastador
Devora-me em carne viva
Dilacera meu entendimento
Sentimentos que se destroem
Um buraco negro e profundo
Capaz de calar um sorriso
De destruir uma flor
De sujar o amarelo puro de cádmio
Os cinzas desses dias duros
Petrificados frente ao desgosto
Diante do fracasso da alma
Sem conseguir ver o sol
O céu é negro
Fez-me negro o paraíso
Ressurgente luz divina
Que se apaga diante da mágoa
Em não saber o porquê das coisas
O silêncio mata
O silêncio mata
O silêncio mata
Funeral do que fui
Sepulcro das alegrias deixadas.
Dos dias felizes junto de ti
Dos sorrisos da criança que éramos
Tudo cinza
As flores tornaram-se cinza
O sol está cinza
E cinza a cristalina água do ribeiro
A morte me espera
Morte vencida antes mesmo que chegada
Morte carregada de ânsia
Pungente sentimento de não ter nada.
Carregada de uma melancolia sem fim.
Enfim, uma alma nobre se despede.
Chiaroscuro
Bata-me contra as rochas
Que voltarei mais forte
Sangrando ao vento
E pronto pra te devorar
Depois serei mar sereno
Que aveluda a alma
Que desnuda a praia
Que acalma as nuvens
Sou mar que te mostra os extremos
Mar desejoso de ti
Dia e noite
Noite e dia
E sem você sentir
Volta sempre
À procura desse mar
Que te afoga a sede de me possuir.
Vácuo
Outro dia pensei sobre o vácuo
Um enorme buraco de sei lá o quê
Um vazio que não sei bem o que é
Mas que deve ser igual ao que eu sinto
Um abismo de não saber o que fazer
Um espaço onde tudo cabe e nada existe
Uma perdição completa do absoluto
E um preenchimento avassalador do nada
Sim, o vácuo deve ser igual à minha alma
Tão branca que nada se expressa
Tão negra, que tudo se esconde...
Cirrocumulus
Uma imensa certeza de
que eu era feito de um monte de pedacinhos de vida
Como aquelas nuvens lá no céu,
todas juntinhas contando uma história
Em silêncio...
Flutuando sonhos
infinitos.
Não te encontro
Acordo
E nos meus sonhos você não estava.
Abro a janela para te ver
Mas você não está
Olho para as nuvens
Confeitadas de gaivotas
Te procuro em todos os cantos
Mas você não está
Deixo o sol entrar para iluminar mais o meu mundo
Mas você não está
Encosto em um dos cantos
E nem nesses cantos você está
A minha alma se abre em um abismo
E nem lá você está
Sinto-me perdido
Sem chão
Sem sentido
E em nenhum lugar você está.
Escureceu e eu nem senti
Olho para a lua
É lá que você está
Tão pura, tão crua
Tão longe de mim.
Killer
Acostume-se sem mim. Serás pássaro livre... Solto
Serás sol e não cinza.
De todo os lugares que estiveres.
Serás apenas a luz de si própria
Porque de mim não terás a sombra
E de todos os demônios
Serás anjo caído
Iluminado por sua própria luz
Serei eu uma rocha densa
Fixada à terra seca
E não terás mais que me regar
Para que algo nasça em mim
Acostume-se
Voe alto em direção ao sol
Bem alto
Mas cuidado para que suas asas não derretam.
Medusa-me
Emaranhei-me em tuas serpentes de sangue
Teceram em mim ninhos de sedução
Perdidos... A minha alma e o meu coração
Expurgaram de mim a razão
Substrato de quem fui
Agora sou apenas seu
Petrificado diante dos meus abismos
Debruço-me sobre o infinito de prazer.
Não me pertenço mais
Sou pérola vermelha.
Voz
De tudo que sinto, eu me calo
Porque sinto um vazio no peito
E se calo é porque sinto
Uma tristeza enorme de fato
Porque é infinita a dor que eu tenho
O mundo vazio a minha volta
O grito sentou-se ao meu lado
Me calo e não minto
A dor que sinto eu não falo
A saudade é um fato
Transborda dentro do peito
No silêncio é onde eu me calo
Porque se grito é para dentro
Que corta- me no talo
E isso já é o meu alento.
Ouvidos já não me querem saber
O sol que nasce lá fora é perfeito
Falta nascer dentro do meu peito
Porque dentro de mim é respeito
Mas também é fracasso.
Preciso viver novamente
Andar de novo passo a passo
A vida andou em um só compasso
Bailando comigo como um peso
Como um fardo
Com muito medo
Hoje não mais me calo, mas sinto
Não mais o silêncio...Eu minto
Me sento esperando o tempo passar
O sol lá fora é lindo
Dentro de mim só limbo
Dentro de mim um enorme rasgo
À espera de um remédio amargo
Mas o sol insistiu
E iluminou-se dentro do meu peito.
Onde?
Onde eu estava quando tocaram os sinos?
Onde eu estava quando rufaram os tambores?
Perdido, calado e sozinho
Silencioso amor
As aves partiram
E o sol desbotou
Onde eu estava quando rifaram as almas
Onde eu estava quando o galo cantou?
Pessoas caladas
Ruas desertas
Cidades sem vidas
Esperanças incertas
Onde eu estava quando tudo era pó?
Onde eu estava quando o chão desabou?
Momentos incertos
Destinos calados
Moídos ao vento
Cavalos selados
Onde eu estava quando você me queria?
Onde eu estava quando você era só?
Janelas fechadas
Choro contido
Chaleira no fogo
Um silêncio sofrido
Onde eu estava quando você quis me abraçar?
Onde eu estava pra te acalentar?
Sou pó de saudades
Sou vento que passa
Sou sofrência que não cansa
Sou resto de massa
Onde eu estava quando você me desejava
Onde eu estava?
Eu Estava.
Placidamente livre
Sentirei esse teu gosto amargo
Que exala das suas vestes plácidas
Que vestem sua alma pura e etérea
Não sei se cobrindo a serena várzea do seu amor
Ou te desnudando completamente diante do louvor
Com que te estendo o meu ser
Faça dele o seu.
Se calada em teus sombrios sentimentos estás
Não serei eu escravo da sua insensatez
Livre estou e despertando para a vida
Liberto-me do gosto seco de um lamento eterno.
Sou um pássaro prestes a voar longe
Sou vida.
Cachoeira de luz
Aquela força que se debruçava no abismo
Braço forte de água que não hesitava em cair,
Naquela tarde adocicada de laranjas
Transbordante de única beleza.
Fiquei paralisado frente à luz que emanava das entranhas daquela cachoeira
O silêncio me tomou por completo
Em mim, apenas a sensação de estar fincado na rocha
E meus olhos presos diante de tamanho espetáculo.
O tempo paralisou.
Não sei exatamente quantas horas
ou dias fiquei ali em êxtase
Disseram-me que me tornei uma rocha,
De tanto que fiquei parado.
Quem dera ter-me tornado uma,
Talvez assim fosse eu banhado
Por aquelas águas luminosas de vida.
E submergido,
Me fundiria de vez à natureza.
Luz
Águas cheias de sol
Banhadas de luz
Etéreas,
Que deslizam entre as fendas
Rugas de um tempo perdido
Do absinto
E de tantos abismos
Calados da alma
Que sentimos
E Ressentimos
Prontos para nos inundar
Nos afundar
E só assim sermos livres ...
À beira mar
A janela está fechada
Escancarada para a minha alma
Fria como o frio lá fora
Gélidos pensamentos
Que me paralisam só de pensar
Uma xícara de chá é minha amiga
Fumaça ondulante como a minha vida
À procura de amor
Dor de estar sozinho
E sem achar meu caminho
Sigo a procurar nesse frio.
Cidade em desalinho
Cidade cinza
Cheirando a mar.
O silêncio.
Quase sem sentir-me acordo na fria madrugada
A ausência de sonoridade me acalenta de todo
Me sinto mais próximo de mim
Se não fosse uma noite tão calorenta desligaria o ventilador
Para me descobrir nas entranhas
E com isso poder me reconhecer nesse mundo sem alma
As almas dormem estando acordadas
E vivem acordadas estando dormindo
A cidade de concreto me oprime
O cinza toma sempre conta de mim
À noite parece tudo brando
Um monstro que silenciou de exausto
Que devorou as almas de quem as deixou sem luz
Sem gritos aflitos de panelas e de copos
Sem a angústia de precisar responder às vozes aflitas
Sim, sinto-me em um útero nessas horas
Imerso em um mundo reconfortante
Restauro-me das energias perdidas
O silêncio tem um aroma profundo
Se eu pudesse nem respiraria para senti-lo melhor
São essas horas que me fazem voltar ao humano que perdi
Que se deixou levar pelo celular sem fim
Pediria para esse silêncio perdurar por dias, meses...Anos
Até esvaziar-me por completo do concreto dentro de mim
O silêncio é como a água que me banha
É como um simples passarinho em uma árvore
O silêncio é de uma simplicidade tanta
Que para senti-lo de verdade
Precisamos de uma alma vazia de “achismos”
E sim, cheia de euforia... De ausência de entendimento.
Apenas um puro sentimento.
Essa calma que se traduz em vivência
Essa sede de não precisar falar, responder... Ser
Abismo
Vivo entre o abismo de mim e o do mundo
Procurando no outro o vazio que encontrei
Sou partícula que não se entende
Sou paisagem, sou gente
Sou ferro, sou água
Sou vida que mente
Fingindo para tantos
Que sou feliz
Quando não entendo nem o que sou
O que sinto
O que sente
Querendo ser o que todos dizem
E o que você me diz
É que eu sou de tanto
Pranto pra me lavar de tudo
E que me escorregue para o fundo
Do que imaginei ser
E nunca fui.
E não sou.
Sou gente
CM
2020
Pássaro da luz
Se tudo que represento
fosse só o meu lamento
Pra te dizer bem perto
Que sou seu amuleto,
Seu sangue
O vento.
Que insiste em nos acariciar
Encontro de dois em um
De um em dois
Meu manifesto
Sereno estou pra te dizer que quero
Novos horizontes pra te seguir.
És céu, és terra, és tudo em ti
És ave voando
E quando pousares
Te espero
Serenamente aqui
E quando me achares
Me abrace para que o quando
Se torne passado,
O amor se torne o agora
E o pra sempre
Só o momento
Em que iremos embora daqui.
Agulha no palheiro
Agulhado,
Retido em um palheiro à procura de luz
Quero ser achado
Por mãos que me deem um abraço
Devaneios da solidão
Quero saídas e não perdão
Quero sorrisos e não promessas
Tenho pressa
Já passei do ponto
Se durmo não esqueço
Quando acordo sei o que mereço
De tantos anos
De tantas buscas
Acertos e tropeços
Quero revelações justas
E não enganos
Mereço um paraíso
E não mais desertos
Cansado, exausto, nunca omisso
Me cansei de fracassos
Não sou um fiasco
Sou partícula de luz
À procura de paz.
Dead Line
Sinto-me partindo aos poucos
O sol tem estado escuro
E a lua mais perto de mim
A fumaça que sai da chaminé
Parece com minha alma subindo aos céus
Sinto-me partindo aos poucos
Sinto-me partindo aos poucos
Você quer um sorriso
Mas só posso te dar fracassos
Você quer um alívio
Mas só tenho gritos
Sinto-me partindo aos poucos
Sinto-me partindo aos poucos
Na encruzilhada onde o sinal está aberto
É só deserto
Tudo escasso
O errado é o certo
E o certo é só fracasso
Sinto-me partindo aos poucos
Sinto-me partindo aos poucos
Todos dizem que é a vida
C`Est La Vie
Todos dizem que é pra poucos
Querem sempre meter o dedo na ferida
Mas eu só queria um abraço
Um único abraço
Sinto-me partindo aos poucos
Sinto-me partindo aos poucos
CM
2019
Tão leve
Tão leve como o amor
que não pesa
que não despreza
que não nos prende
mas nos apodera
Tão leve como a pluma
que delicadamente afaga
tão breve como a folha que cai
do galho fino
da fava sem traça
do grão e da fumaça
do café cheiroso
e daquela mulher cheia de graça
cheia de prenda
que ferve a polenta
que escorre do prato branco
e me chama de moço
Tão leve como esse instante
de um momento que passa
do passado da mente
que se dilui na semente que não estraga
das memórias de um amor leve.
que amassa feito papel fino
esse coração destemido e valente
à espera de um amor puro
e latente.
CM
2019
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Até breve
Céu caído de poente
alaranjado
quente
vestido de vermelho
sereno
vai se despedindo lentamente
querendo me deixar
Arpoador
palmas
noite de estrelas
esperando você voltar
Era só amor entre a gente
mas você se foi
se perdeu no mar
Atrás das montanhas
se escondeu de mim
em silêncio e entre o cheiro de jasmim
deixou a lua
para me namorar
CM
2019
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Folha de Copa
Era uma folha
com jeito caído
de um coração aos pedaços
caída de um galho partido
Folha seca
daquelas que não têm sentido
Passam uns
passam outros
E só quem já foi ferido
sabe entender uma simples folha
em um chão repartido
caída de um galho quebrado
de um coração remoído
CM
2019
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Sentir ou sentido?
Qual o sentido das coisas?
O sentido de coisas sentidas ontem
Ou o sentido do caminho a ser tomado?
Quer ser sentido ou sentado no caminho perdido
O que não faz sentido é a melhor solução.
Pois se sentiu em vão
No coração machucado
E se não sabes o caminho a tomar
Qualquer sentido
É o caminho a ser seguido
Sem pensar no que sentiu
Sem se preocupar com o coração ferido.
Não serás um sentido perdido
E sim um sentido achado.
CM
2019
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Véu da manhã
Te vislumbrei
quando você acordava
Teu silêncio ainda
conservava a fragrância da noite passada
Sua cidade ainda não
despertada
e eu já te anunciava
como um novo dia
As maritacas ao longe em festa
janelas fechadas ainda
ausentes ao prenúncio do sol
passarinhos gracejando o
dia novo
a luz perene e levemente
alaranjada me trazia um conforto
um sentimento que fiquei
na dúvida
se era de paz ou de uma
profunda alegria de um recomeço
Manhã,
poder te ver é um bálsamo
senti-la em minha pele
com esse frescor de esperança e
esse cheiro do ainda
inexistente
Manhã das 5,
que emerge da noite pungente que te deixou
manhã de meia luz e
nas caixinhas onde moram
gente
que seu frescor possa
entrar
de tal maneira que cada
alma possa sentir o que sinto de você agora
CM
2019
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BEIJA-FLOR
Pequena porção do universo
Que te deu asas
E te vestiu de beleza
reluz em ti a natureza
e dela és arauto do céu e das matas
Inspira em versos teus poetas
que jamais conseguiram chegar perto
a descrever-te em palavras
seus gestos
Balé silencioso
à procura de sua amada flor
Nutrir-se dela
A encher-nos de amor
Tu és poesia voante
alegria errante
harmonia e cor
que nos enche em graça
reflexos multicor
da existência divina
Como uma lamparina que se acende
e logo depois se apaga
seja onde for
vem e logo se vai
aparições raras
para nos deixar em saudades
imaginando quando iremos vê-lo
novamente
bailando diante de um buquê
és semente do belo
ser reluzente
por isso escolheu como amante
a flor.
CM
2019
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Meu amigo sol
No limiar da aurora
Sentado no beiral da minha cama
Esperando a manhã que me visite
Que me mostre o quanto de sol quer me dar
O quanto de afago eu mereço
Naquela manhã por vir
Esperei desde as 2
O sono não me queria
Os travesseiros me afastavam
E o resvalo de luz que entrava
Da lua cheia todinha
Silhuetava meu rosto contra a parede branca
A silhueta não tem alma
É um recorte da luz que não me quis
Esperei pelo sol
Que entraria pela janela
a me inundar de vida.
3,4,5,6...
As 7 me animei
Ao longe um resvalo de luz laranja
prenunciava o sol que surgia
Falsas notícias
Foi um dia nublado
Mandaram me entregar um cinza
feito do dia passado
Com jeito de mofo
Surrado.
Voltei a dormir.
Quem sabe em um sono perdido
Eu encontrasse esse sol deixado...
CM
2019
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SILÊNCIO
A perene solidão
me cala
me sentencia
no absoluto vazio das palavras
me remove o poder da fala
me constrange
me negligencia do simples ato de contestar
A solidão das noites longas
dos dias cinzas
quando não se dialoga
e se funde no silêncio
quando me permito a descoberta do espelho
e o afago acalentado de um travesseiro
Que solidão preciso viver para despertar a alma?
Para me comover na absoluta falta de diálogo?
na calmaria as vezes trágica das manhãs acordadas
da sentença de um barco ao mar sem remos
perdido na névoa da noite passada
Solidão que tantos chamam de amiga
que me aperta o peito
me sufoca
e sempre do mesmo jeito
me faz gritar pra dentro
Desalento que geme
depois de um dia após o outro
na ânsia de uma alma que fale
e que até me xingue
se preciso for
Mas não me cale
não me deixe
mas se acaso quiseres
que me mate
mas que seja de puro amor.
CM
2019
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STAND-BY
Vácuo de vida
Sem laços e sem fundo
Absoluto vazio
Mundo
Mãos separadas
Pensamentos perdidos
Silêncio nefasto
Corações partidos
Dá-me uma ajuda
Apenas uma chave
Não mais que um momento
Apenas a metade
É o meu sentimento
Tudo gelado
A névoa que baixa
A alma que clama
Nada se encaixa
Fico sozinho
No meio de tudo
Sem esperança
Sem alegria
Era só uma chance
Era tudo o que eu tinha
Sobrou outra parte
Da fruta que morre
Era só o que me cabe
Trancado na torre
E você nada sabe
Torpes momentos
Maldade
Sozinho
Verdade
CM
2019
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A FLOR
Transcende
poder fecundo
de uma flor amarela
que sonha
A tênue brisa que passa
a afagar-lhe o corpo
querendo lhe apresentar
um novo mundo
fecundo poder
da inocência
que emerge da alma alva
cor da sua pele.
Singeleza...
CM
2019
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UM SENTIDO
Aquele homem
Magro, barbado de dias,
Fechado, soturno,
Calado,
Ficava ali parado
Em pé na beira do mar.
Areia aos pés
Fincados
Olhando fixo o horizonte
sem sentido,
sem nexo,
sem momentos.
Sua alma perdida,
sem respostas
sem grito.
Queria saber o porquê das coisas,
os restos de ondas
tocavam-lhe as raízes,
congelavam seus sentidos.
Torpes momentos de vácuo
quando aquele homem
magro, soturno,
calado,
adentrou no mar
e desapareceu.
Dúvidas nem sempre são respondidas.
As vezes se perdem no universo.
Era apenas um homem,
magro,
fincado,
sozinho
e perdido..
CM
2019
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SILÊNCIO
Pessoas sozinhas, caladas
Andando em ruas geladas
Pessoas deixadas
Tristes
Úmidas
Sem nada
Pessoas distantes
Ausentes
Naquele dia de chuva fina
Nas poças que insistiam em refleti-las
Pessoas tremidas
letárgicas
Apenas um dia de inverno soturno
Estático
Era mais um dia de chuva miúda
Nublado.
Fechado.
CM
2019
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FINDO
Saiu do peito
Se esgotou
A paixão foi embora
Veio o despeito
Esvaziou por completo
desse jeito
que ninguém entende
Um jeito perdido
deixado
no canto
sozinho
largado
vazio
encanto
aceito
CM
2019
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SER MENTE
Semente que cai e que brota
Na mente da gente
Na horta
Que cria
Que sente
Transporta
Fecunda
Sê mente
Clama
Latente
Semente que vinga
Transcende
Semente de vida
Vivente
CM
2019
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CHOVIA
Os dias parecem iguais
quando chove lá fora
Na demora das horas
Quando chove lá fora
Café quente
Pão quente
Cama vazia
Que dias, que dias
Demoram ir embora
Quando chove lá fora
E dentro da gente
No acaso das horas
Chovia, chovia
CM
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SEPARAÇÃO
Um fio tão fino
esticado
quase rompido
segurava as partes
Fio
contido
fio fino
feito de medo
de abraço
acaso de mim
de nós
que se rompe
que se parte.
Era um fio fino
frágil
tímido
sozinho
CM
2019
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FRIO
A cidade
congelada de negro
Medo do escuro
sozinho
cinza profundo
Quem se importa?
Mesquinho
enterro o silêncio
na cama que guardo
uma anotação,
um desenho.
Que mundo,
Que mundo
CM
2019
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ESTRELA CADENTE
Busquei as estrelas perto de ti
Mas só achei inverno
Busquei as luzes do infinito
E só encontrei o vazio
Só queria navegar com você
Descobrir novos mundos
Conhecer o absoluto
Entendermos juntos
A poesia da vida
E navegarmos em nossos sonhos.
O cometa caiu
Deixou pra trás sua luz
Incendiou o meu coração
Restos de quem eu fui
Agora é só escuridão
Mas o sol brotará de novo
Aveludado como sempre
Me dando caminhos de luz
Para quem sabe algum dia
Buscar novamente as estrelas
E sonhar de repente
Como quem sabe
Novos mundos diferentes.
CM
2019
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LUZ
Vai pras estrelas
Lá você encontrará o que precisa
Lá nas estrelas cadentes
Reluzentes, transcendentes
Vai
Voa
E depois que encontrar
Volta
E me mostra
Traz no bolso uma estrela
Pode ser uma única só
Que me ilumine
Como aquelas outras
Que iluminaram você
CM
2019
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VIDA
Pulo sobre as nuvens
Abraço o arco-íris
Dialogo com as estrelas
Imagino o sol dentro de mim
Dia claro
Dia lindo
Iluminado de mim
Querendo gritar
Me calo
Guardo o céu
Pra algum dia outro
De alegrias de novo
Enfim gritar
de felicidade enfim.
CM
2019
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INFINITO VOANTE
Cada passarinho é parte do infinito
Partículas de luz
De cor
De amor
Até de dor
Existem partículas que piam
Que cantam
Que "avoam"
Que andam
Ah se um dia
pudessem todas essas partículas
se juntarem
Veríamos o infinito forma
Voar longe
Pra sempre
Pra gente.
CM
2019
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ILUSÕES
Verdes campos que você me prometeu
Dizendo que iríamos rolar de brincar
Que colheríamos as mais lindas flores
Que o sol nasceria mais lindo
Lindos campos onde as montanhas pareceriam nos abraçar
E a brisa nos acariciaria e nos faria sonhar
Sim, você prometeu
E eu sonhei junto
Com mundos infinitos
Possibilidades mil
A Felicidade seria a nossa companheira
E a paz nossa amiga
Onde fiquei?
Em que estrela fui deixado?
Que me perdi do prometido
Que não consegui mais encontrar...
Foi o acaso das coisas?
O jardim que plantaríamos se apagou
As belas flores murcharam
O sol virou noite
E as montanhas ficaram tão longe.
Naquela manhã chuvosa descobri que tudo foi um sonho
Lá fora os campos estavam inundados
Que as flores ainda nem sequer haviam sido plantadas
Que o sol não deu notícias
E que as montanhas estavam cinzas
naquele tempo nublado daquele domingo perdido.
CM
2019
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SEREI EU
Doces lampejos de ti
A suspirar-te leveza em mim
A me mostrar a noite de ontem
A me contar histórias sem fim
Serei eu
Enquanto a eternidade em ti existir
A distrair-me de sinceridade
Uma inesgotável beleza
Enfim
A me trazer um sono assim
Enquanto eu viver em ti
E você em mim.
CM
2019
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AMAzônia
Grito calado,
sentido,
quase esgaçando o peito,
a boca,
estalando os dentes.
Coração impotente
que geme,
ganância que zomba,
que destrói muita gente,
A mata chora,
os bichos choram,
Choram os homens
Inocentes.
Até quando cortarão os pusos da flora?
Alma dentro que sente,
Desmata
Padece
Poente.
CM
2019
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Fiz tudo dentro de mim para alegrar-te
Iluminei meus girassóis para te colher
Repintei minha alma de amarelo para apagar o cinza
Abri as janelas do meu ser para não te ver sozinha
Era a minha flor
Dor que me fazia crer
Centelha que te fazia ser
Rebelde em tudo que queria
Não adiantou
A escuridão era a minha guia
Mas como tudo que é escuro
Um dia se ilumina de todo
Se abrilhanta, se irradia.
Vou para as estrelas
Sonhar que poderei um dia
Descobrir onde chegarei
A luz que me convida
chama vida
Dela sentirei prazer.
Sou um asteroide à procura de amor.
CM
2019
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CINZA
Manhã de azuis sujos e cinzas profundos
Quando ainda adormecida
Silenciosamente fingida de noite
Aos poucos se levanta
Entre pontos alaranjados
Que prenunciam mais um dia nublado.
Manhã de rasgos de chuva
Umedecendo o varal esquecido
Escorrendo em gotejos vagos
A vidraça que separa o tempo.
CM
2019
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SONO
A cama quente
Te abraçando em carícias fugidias
As cobertas como um manto
Te vestindo de não querer
Em uma manhã gotejante
Um sono esquecido
Na janela rasgos de encantamento
Quando a cidade dormida
Quer levantar.
Silenciosa, esquecida
Naquele rápido momento
Entre a noite fingida e o dia cinzento
Como queria em poucas horas perdidas
Perder a vida na cama de ontem
CM
2019
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EU E VOCÊ
Não
sei o que será ontem
Só sei o que foi amanhã
Cápsula do tempo insano
Perdido
entre em mim e você.
Á flor que não brota mais
A nuvem que so anda pra trás
As
montanhas que não estão mais lá
E a estrada que não tem mais pra onde ir.
CM
2019
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A bruma,
Serena,
Passageira,
Ligeiramente aveludada,
Disfarçada de gente,
Querendo se vestir de mar.
Achando que era um barco verde,
Desses que calmamente
Tentam descobrir o que é amar.
CM
2018
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SONOROS SENTIMENTOS
Aqueles ruídos
Cutucavam-lhe a alma
E lhe surtava de todo o equilíbrio,
Um simples voo de mosca,
Um alfinete caindo,
Era uma hecatombe.
Por detrás da vidraça,
Mirava o esvanecer daquele dia,
Procurando o silêncio da noite,
Tranquilizar-te...
Acalmar-se de tantos pensamentos,
Ruídos da alma contida,
Isso era só uma saída,
Para um final de tarde sofrido.
Silenciar-se...
E de novo no amanhã,
De um sol levemente aveludado,
Vivenciar novamente,
Aqueles sons de pequenas gotas,
A gotejar-lhe na alma,
Sonoros sentimentos,
De espera contínua.
Do infinito dia que passa.
CM
2018
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APENAS
Me descobri um artista pacato,
Sem vontades de gritar,
Sem querer expressar espanto,
Sem ao menos a ousadia como espada.
Me descobri assim,
Reflexo de mim mesmo,
Sem espelho da história da arte,
Sem imitar o que nunca quis ser.
Sou e descobri o que sou,
Um parêntese em meus 53 anos,
Dividido entre o começo e o estar,
Um ser que quer abrir a janela,
Um artista que quer planar,
E não voar como o gavião que ronda,
Como uma lebre que salta,
Como o gato que pula.
Planar,
Levemente dentro de mim,
Suavemente em profundo silêncio.
Sentir a brisa,
Sonhar,
Rir de mim as vezes,
Simplesmente ser eu.
Um artista pacato.
CM
2018
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DESAFIO DE MIM
A minha mente está tentando se acomodar,
Tantas descobertas,
Tesouros guardados,
Enterrados dentro de mim.
De ouro apenas minhas descobertas,
De prata meus desejos em cavar-me ainda mais,
O bronze que reluz ainda meio opaco,
Deixava ver-me novamente,
Eu era um novo eu,
Em ebulição querendo me redescobrir.
Me desafiar a entender tudo aquilo.
Rico de alma e de amor,
Simplesmente puro e feliz.
CM
2018
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NA REDE DA VARANDA
Dar-se um tempo
É amar a vida
A preciosidade dos instantes
A eternidade dos momentos.
Silenciar a sua alma
Sentir cada pulsação
Vivenciar a calmaria
À espera pelo nada
...
Deixe-se viver.
CM
2018
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OI SOL
Hoje o dia acordou dentro de mim,
Levantou-me e me levou a falar com o sol,
Queria apenas que eu conversasse com ele,
E o sol mudo,
Deu-me apenas seu calor e sua luz.
Silenciosamente me acalentou
E voltei para dentro de mim
Cheio da vida que me amanheceu.
CM
2018
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QUE TE QUERO VERDE
Ah as maritacas sorridentes
Que passam sobre meu telhado
Cortejando o horizonte
Mostrando-me que não são gente
Se fossem, não estariam a voar sorridentes,
CM
2018
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AMAR?
Eu quero a razão de saber te amar
Eu quero a certeza de te querer amar
Um amor tão mais forte
Que se mostre com o zelo de um amor verdadeiro
Que só quer saber te amar
Que me faça tão forte
Como no tempo que eu te dizia
Que nunca ia acabar
Me mostre a ponte
Que precisamos atravessar
Eu quero a razão de saber novamente te amar
Eu quero a certeza novamente
de te querer amar
2018
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Cortando meu ainda enluarado rosto
Ainda querendo o sutil azul noturno
Dando palpites na minha alma que chora
Me violentando dentro da mínima brisa que brota
Que inunda meu coração dilacerado
Ávido do sol que não vinga
Da manhã que está indo embora
CM
2018
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VER
Tento entender as engrenagens da vida
Tento entender de que lado estou
Tento me ver, só vejo um pedaço
Tento entender, só vejo o que sou
Me dizem que sou luz
Mas não acredito
Quero ver-me por completo
Quero um espelho
Apenas um grito
CM
2018
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SENÃO
Vida
Tem a vida na mão
Segura, precisa
Como um script
Perfeita, contida
A vida feliz que lhe é
Que passa e fica
Que fica e é
CM
2018
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ORAÇÃO
Me dá uma força tão grande na alma
Quando sinto a calma
De uma simples oração.
Um sossego
Um lampejo de eterno
Para sempre eu quero
Esse rápido sentimento
Onde sempre que sinto eu tento
Durar para sempre
Esse momento
Em meu coração.
CM
2018